Leishmaniose em cães: sintomas, diagnóstico, tratamento e prevenção (guia completo)
A leishmaniose é uma doença causada por protozoários do gênero Leishmania, transmitida pela picada do mosquito-palha (flebotomíneo). Em cães, a forma mais relevante no Brasil é a leishmaniose visceral canina (LVC). Este guia explica como se pega, os sinais clínicos, como funciona o diagnóstico, quais são as opções de tratamento permitido no país, e as melhores estratégias de prevenção para proteger seu pet e a família. Também respondemos às dúvidas mais frequentes e desmistificamos crenças comuns.
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O que é leishmaniose (em cães e humanos)
A leishmaniose é uma zoonose — doença que pode afetar animais e humanos — provocada por protozoários do gênero Leishmania. No Brasil, o principal agente da forma canina e humana visceral é Leishmania infantum (também conhecida como L. chagasi). A transmissão acontece, sobretudo, pela picada da fêmea do mosquito-palha (flebotomíneos, popularmente “birigui”, “cangalhinha”), que se infecta ao sugar sangue de um reservatório com parasitas circulantes e pode transmitir para outro hospedeiro.
Existem duas apresentações principais em cães e pessoas:
- Leishmaniose visceral (LVC/LVH): afeta órgãos internos (baço, fígado, medula óssea) e o sistema imune; é a forma de maior impacto em saúde pública.
- Leishmaniose cutânea (LC): caracteriza-se por lesões de pele ulceradas. Em cães, a preocupação maior é a forma visceral, mas lesões de pele também são frequentes.
Ponto-chave: não há transmissão direta por contato entre cães ou do cão para o humano (beijo, carinho, fezes). O vetor é o mosquito-palha. Por isso, a barreira repelente é central no controle.
Como se pega: vetor, ciclo e sazonalidade
O ciclo da infecção
O flebotomíneo pica um cão infectado e ingere formas amastigotas do parasita. No intestino do inseto, essas formas se transformam em promastigotas (infectantes). Na próxima picada, o mosquito inocula as formas promastigotas na pele do novo hospedeiro. No cão, os parasitas são capturados por células de defesa e voltam ao estágio amastigota, multiplicando-se em diversos tecidos.
O período de incubação em cães é variável — de semanas a muitos meses. Cães podem permanecer assintomáticos por longos períodos, mas ainda assim servirem como fonte de infecção para o vetor.
Ambiente, clima e hábitos
- O mosquito-palha tem hábitos crepusculares e noturnos (fim da tarde ao amanhecer).
- Reproduz-se em ambientes orgânicos úmidos: folhas, galhadas, lixo, abrigos de animais, solos sombreados.
- Áreas urbanas arborizadas, quintais com matéria orgânica e presença de cães aumentam a densidade vetorial.
- Estiagem seguida de chuvas e calor favorece picos sazonais.
Controle ambiental (limpeza, iluminação externa, manejo de abrigos) e barreiras repelentes no cão reduzem muito o risco.
Sintomas de leishmaniose em cães
O quadro clínico varia. Alguns cães têm doença discreta; outros desenvolvem manifestações extensas por inflamação crônica e deposição de imunocomplexos. Os sinais mais comuns incluem:
- Perda de peso e massa muscular com apetite variando (caquexia).
- Pelo opaco, caspa, dermatites e feridas de difícil cicatrização (principalmente em orelhas, focinho, ao redor dos olhos).
- Onicogrifose (crescimento exagerado e deformado das unhas).
- Linfadenomegalia (gânglios aumentados), esplenomegalia (baço aumentado).
- Lesões oculares: conjuntivite, uveíte, secreção ocular.
- Problemas renais (proteinúria, insuficiência) — são decisivos no prognóstico.
- Letargia, intolerância ao exercício, febre baixa (nem sempre).
- Lesões cutâneas ulceradas, crostas, hiperqueratose no nariz, fissuras nas almofadas plantares.
- Sangramentos nasais (epistaxe), principalmente em fases avançadas.
Como esses sinais podem se confundir com outras doenças (doenças endócrinas, demodicose, alergias, doenças renais/autoimunes), o diagnóstico laboratorial é indispensável.
Diagnóstico: quando testar, quais testes e como interpretar
Indicamos testar quando o cão mora/visitou áreas de risco e apresenta sinais compatíveis (pele, unhas, emagrecimento, linfonodos aumentados, alterações renais) ou quando há suspeita epidemiológica (ex.: convivência com cães positivos na vizinhança). Em campanhas públicas, cães assintomáticos também podem ser testados.
Testes mais utilizados
- Triagem sorológica (testes rápidos/ELISA): detectam anticorpos contra Leishmania. Úteis para triagem e vigilância, mas não quantificam parasita.
- PCR (qPCR): detecta DNA do parasita em amostras de sangue, medula, linfonodo ou pele; ajuda na confirmação e monitoramento.
- Citologia/Histopatologia: visualização direta de amastigotas em linfonodo, pele, baço/medula; é confirmatória quando positiva.
- Exames complementares: hemograma, bioquímica (ureia/creatinina, proteínas), urinálise (proteinúria) e, se necessário, punção de medula/linfonodo.
Em regiões com programas oficiais, notificações e fluxos de encaminhamento seguem normas municipais/estaduais. Orientamos o tutor sobre os próximos passos e o manejo responsável.
Tratamento e acompanhamento
O objetivo do tratamento na leishmaniose canina é reduzir a carga parasitária, controlar sinais clínicos, melhorar a qualidade de vida e diminuir a infectividade para o mosquito. No Brasil, o manejo deve seguir a legislação vigente e a prescrição veterinária — não utilize fármacos por conta própria.
Como é o plano terapêutico
- Terapia específica com antileishmania (escolha e duração variam por quadro, peso, função renal e normas locais).
- Terapia adjuvante: alopurinol (controle metabólico), protetores renais (ajuste da proteinúria/pressão), hepatoprotetores, reposição nutricional e manejo de pele (antissépticos/antibióticos tópicos conforme necessidade).
- Controle da dor e do prurido quando presentes.
- Barreiras repelentes contínuas (coleiras/spot-on) para proteger o cão e reduzir risco ambiental.
- Acompanhamento com reavaliações clínicas e laboratoriais (função renal, proteínas, urinálise, eventualmente PCR/sorologia para monitorar).
Importante: muitos cães melhoram clinicamente, mas podem manter baixa positividade em exames por longo tempo. O manejo é crônico, focado em qualidade de vida e prevenção da transmissão.
Prognóstico
- Depende da função renal na apresentação (proteinúria/azotemia pioram o cenário).
- Respostas são melhores quando o diagnóstico e o início do tratamento ocorrem precocemente.
- Adesão do tutor ao acompanhamento e à prevenção vetorial é determinante.
Prevenção completa: repelentes, ambiente e vacinação
Como a transmissão depende do mosquito-palha, a prevenção combina proteção individual do cão com controle ambiental e, quando indicado, vacinação. Nenhuma medida isolada é 100% — o melhor resultado vem da estratégia combinada.
1) Barreiras repelentes
- Coleiras repelentes/inseticidas (p.ex., com piretróides): fornecem proteção sustentada por semanas/meses. Ajuste correto ao pescoço, sem folgas.
- Spot-on/sprays repelentes: úteis como reforço em épocas de maior atividade do vetor.
- Rotina: substitua conforme validade do produto; não retire a coleira à noite (período de maior atividade do mosquito).
2) Manejo ambiental
- Limpeza de quintais, retirada de folhas, lixo orgânico e restos de ração.
- Abrigos de animais secos, limpos, bem iluminados e elevados do solo.
- Telas finas em janelas/caninhos, ventilação e iluminação externa para reduzir atração de vetores.
- Evitar passeios no crepúsculo/noite em áreas endêmicas sem proteção.
3) Vacinação
No Brasil existem vacinas para leishmaniose canina disponibilizadas de acordo com a legislação e a oferta de produtos. Em geral:
- Exigem teste pré-vacinal (cão deve ser negativo antes de iniciar o protocolo).
- São indicadas como parte da estratégia; não substituem as barreiras repelentes nem o controle ambiental.
- Reforços periódicos podem ser necessários.
Vamos analisar o risco individual (bairro, rotina, viagens, quintal, convivência com cães) para recomendar o melhor plano de proteção. Veja também nosso guia de cuidados pet e vacinar cachorro.
Mitos e verdades sobre leishmaniose
Mitos comuns
- “Passa pelo toque/saliva do cão” — mito. A transmissão é via mosquito.
- “Coleira é opcional” — mito. É a principal barreira individual, especialmente em áreas endêmicas.
- “Se não tem ferida, não tem leish” — mito. Muitos cães positivos começam sem lesões aparentes.
- “É tudo igual a outras ‘sarnas’” — mito. Leishmaniose é protozoário; exige manejo específico.
Verdades importantes
- Controle vetorial (repelentes + ambiente) é o pilar da prevenção.
- Diagnóstico requer testes laboratoriais; sintomas isolados não bastam.
- Manejo é crônico: acompanhamento periódico mantém qualidade de vida e reduz riscos.
- Educação do tutor e responsabilidade com a comunidade fazem diferença.
Leishmaniose e risco para humanos: convivência segura
Humanos e cães compartilham o mesmo vetor. Pessoas imunossuprimidas, crianças e idosos são mais vulneráveis às formas graves da doença. Medidas práticas para famílias:
- Mantenha o cão protegido com repelente e o ambiente limpo.
- Use telas/repelentes e evite exposição ao mosquito no crepúsculo.
- Se houver caso humano no bairro, reforce a prevenção nos animais e informe-se com a unidade de saúde.
- Qualquer sintoma humano (febre prolongada, perda de peso, baço aumentado) precisa de consulta médica — o atendimento humano é com infectologista/serviço de saúde.
“Cães saudáveis e bem protegidos ajudam a reduzir a circulação do parasita no ambiente.”
Tabela-resumo: sinais × exames × conduta
Cenário | Sinais/achados | Exames sugeridos | Conduta inicial |
---|---|---|---|
Cão com lesões cutâneas + perda de peso | Feridas crônicas, onicogrifose, gânglios aumentados | Triagem sorológica + hemograma/bioquímica/urinálise; considerar PCR | Iniciar manejo de pele, proteção repelente e aguardar confirmação |
Assintomático em área endêmica | Sem sinais; convivência com positivos na vizinhança | Triagem sorológica conforme campanha; avaliação clínica | Manter coleira/repelente, orientar ambiente; reavaliar periodicamente |
Proteinúria/insuficiência renal | Urinálise com proteína elevada, creatinina alterada | Exames renais completos; confirmar leishmania por sorologia/PCR | Ajuste renal, dieta específica e decisão terapêutica individualizada |
Lesão cutânea atípica | Úlcera resistente a tratamento comum | Citologia/biopsia; PCR de tecido | Tratar ferida, controlar dor e prurido; prevenção vetorial |
Perguntas frequentes sobre leishmaniose
Meu cão positivo pode conviver com a família?
Sim, com manejo responsável: uso contínuo de coleira/repelente, tratamento e ambiente limpo reduzem a chance de o mosquito adquirir o parasita. Não há transmissão por contato direto.
É obrigatório tratar? O que diz a legislação?
A leishmaniose é de notificação compulsória e o manejo deve seguir a norma local. Tratamentos em cães no Brasil obedecem a regulamentações específicas. Avaliaremos seu caso e orientaremos de acordo com a legislação vigente no município/estado.
Vacina substitui coleira repelente?
Não. A vacinação é complementar e, em geral, exige teste prévio negativo. A barreira repelente é indispensável mesmo após vacinar.
O tratamento “cura” definitivamente?
Falamos em controle: muitos cães melhoram muito e vivem bem, porém podem permanecer positivos em algum nível e requerem acompanhamento.
Tenho mais de um cão. O que fazer?
Todos devem usar barreiras repelentes e passar por avaliação. Ajustamos a rotina (passeios, abrigos, limpeza) para o grupo.
Quais sinais renais devo observar?
Sede/urina aumentadas, perda de apetite, vômitos, mucosas pálidas, fraqueza. Procure a clínica para exames (urinálise, proteinúria, perfil renal).
Posso viajar com meu cão para área endêmica?
Sim, mas leve coleira repelente atualizada, spot-on de reforço, evite passeios noturnos em locais arborizados e durma com tela/mosquiteiro.
Quais produtos usar no ambiente?
Comece por higiene e iluminação. Produtos específicos podem ser indicados após inspeção — priorizamos manejo ambiental seguro para pessoas e animais.
Quando procurar atendimento com urgência
- Prostração intensa, vômitos repetidos, diarreia com sangue ou desidratação.
- Epistaxe (sangramento nasal) contínua ou mucosas muito pálidas.
- Perda de apetite por mais de 24–48h, perda de peso rápida.
- Dor ou feridas extensas que pioram rapidamente.
- Alterações neurológicas ou respiratórias.
Checklist de proteção para famílias em áreas de risco
- Coleira repelente válida no cão (sem folga, limpa) + spot-on em épocas críticas.
- Quintal limpo, sem folhas/lixo orgânico, abrigo elevado e seco.
- Rotina: evitar passeios no crepúsculo/noite em locais arborizados sem proteção.
- Telas/mosquiteiros em áreas de dormir; iluminação externa.
- Vacinação discutida com o veterinário (após teste negativo), se disponível.
- Check-ups periódicos (pele, unha, peso, rins) e testagem quando indicado.
- Educação da família: a transmissão é via mosquito; carinho não transmite.
Queremos que seu pet viva bem e com segurança. Se precisar, avaliamos seu quintal e rotina para montar um plano personalizado.
Conteúdo informativo e não substitui a consulta veterinária. A leishmaniose é doença de notificação — seguimos a legislação local. © 2025 Clínica Veterinária 24h Meu Pet Santa Amélia · CRMV MG [Nº_DO_RESP_TÉCNICO]